sábado, 26 de setembro de 2020

Por dentro do Museu



A semântica do tambor

Foto: Claudiomar Gonçalves 
Tambor falante, confeccionado em couro, madeira e cordas.
Origem: Nigéria. Acervo Museu Afro-brasileiro da UFBA 


Você sabe o que é um tambor falante?

Ao longo dos séculos, a humanidade desenvolveu diversas formas e meios de comunicação, o tambor falante é um exemplo. Em algumas partes da África subsaariana, o tambor não era apenas um instrumento musical: fazia parte de um sistema de comunicação. Por meio da percussão, as informações percorriam longas distâncias, de forma rápida e precisa, possibilitando a tomada de decisão e determinando o curso de ações.

 Todavia, para que a comunicação seja eficiente, é preciso que o interlocutor e o ouvinte dominem o mesmo código, tornando o conteúdo que está sendo transmitido inteligível. Na semântica do tambor, é preciso considerarmos que a maioria dos idiomas africanos são tonais. Isso quer dizer que, conforme a entonação dada, uma mesma palavra pode ter significados distintos. A linguagem do tambor, então, deveria reproduzir essa variação tonal, mais aguda ou grave. Porém, ainda havia outra questão: a variação linguística. Uma entonação correspondente a uma palavra e a determinado significado em uma língua africana, poderia corresponder a algo completamente distinto em outra, causando ambiguidades e perdas semânticas. Para resolver essa questão, os percursionistas acrescentavam um pequeno contexto, de forma que, ainda que uma dada entonação tivesse variadas significações, ele determinaria qual o sentido empregado naquele momento, eliminando qualquer dúvida. Exemplificando: “Eles não diziam apenas “cadáver”, preferiam elaborar: “que jaz de costas sobre montes de terra”. Em vez de “Não tenha medo”, diziam: “Faça o coração descer da boca, tire o coração da boca, obrigue-o a descer daí”” (GLEICK, 2013, p 13).

Assim, o tambor conseguiu tornar-se um meio de comunicação eficaz, utilizado durante séculos. O surgimento de novas tecnologias e a difusão de outros meios de comunicação fizeram com que tal pratica fosse cada vez menos demandada, tornando-se escassa nos dias atuais.

Amélia Costa

Museóloga MAFRO-UFBA


Fontes:

Documentação de acervo do Museu Afro-brasileiro da Universidade federal da Bahia

GLEICK, James. A informação: uma história, uma teoria, uma enxurrada. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 528 p. ISBN: 978-85-3592-266-0



Um comentário:

  1. Que felicidade acompanhar este projeto. Um abraço a toda equipe de realização! Sucesso

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