A
semântica do tambor
Foto: Claudiomar Gonçalves
Tambor falante, confeccionado em
couro, madeira e cordas.
Origem: Nigéria. Acervo Museu
Afro-brasileiro da UFBA
Você sabe o que é um tambor falante?
Ao
longo dos séculos, a humanidade desenvolveu diversas formas e meios de
comunicação, o tambor falante é um exemplo. Em algumas partes da África
subsaariana, o tambor não era apenas um instrumento musical: fazia parte de um
sistema de comunicação. Por meio da percussão, as informações percorriam longas
distâncias, de forma rápida e precisa, possibilitando a tomada de decisão e determinando
o curso de ações.
Todavia, para que a comunicação seja eficiente,
é preciso que o interlocutor e o ouvinte dominem o mesmo código, tornando o
conteúdo que está sendo transmitido inteligível. Na semântica do tambor, é
preciso considerarmos que a maioria dos idiomas africanos são tonais. Isso quer
dizer que, conforme a entonação dada, uma mesma palavra pode ter significados
distintos. A linguagem do tambor, então, deveria reproduzir essa variação tonal,
mais aguda ou grave. Porém, ainda havia outra questão: a variação linguística.
Uma entonação correspondente a uma palavra e a determinado significado em uma
língua africana, poderia corresponder a algo completamente distinto em outra, causando
ambiguidades e perdas semânticas. Para resolver essa questão, os
percursionistas acrescentavam um pequeno contexto, de forma que, ainda que uma
dada entonação tivesse variadas significações, ele determinaria qual o sentido
empregado naquele momento, eliminando qualquer dúvida. Exemplificando: “Eles
não diziam apenas “cadáver”, preferiam elaborar: “que jaz de costas sobre
montes de terra”. Em vez de “Não tenha medo”, diziam: “Faça o coração descer da
boca, tire o coração da boca, obrigue-o a descer daí”” (GLEICK, 2013, p 13).
Assim, o tambor conseguiu tornar-se um meio de comunicação eficaz, utilizado durante séculos. O surgimento de novas tecnologias e a difusão de outros meios de comunicação fizeram com que tal pratica fosse cada vez menos demandada, tornando-se escassa nos dias atuais.
Amélia Costa
Museóloga MAFRO-UFBA
Fontes:
Documentação
de acervo do Museu Afro-brasileiro da Universidade federal da Bahia
GLEICK, James. A informação: uma história, uma teoria, uma enxurrada. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 528 p. ISBN: 978-85-3592-266-0
Que felicidade acompanhar este projeto. Um abraço a toda equipe de realização! Sucesso
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