Minha história com o Museu
Afro-Brasileiro se inicia em 2003, quando ministrava um curso sobre a
utilização da imagem na pesquisa histórica e abordagens pedagógicas a partir de
artefatos musealizados, apresentando o projeto “História através das medalhas”,
executado no Museu Eugênio Teixeira Leal. Participou do curso a museóloga Maria
Emília Valente Neves, coordenadora do Museu Afro-Brasileiro neste período, que
se interessando pela idéia do programa educativo apresentada, convidou-me a
elaborar um projeto similar na instituição, com a contribuição da Profa.
Joseania Miranda Freitas e do Prof. Marcelo Cunha, docentes associados, na
época.
Após um período de tramitação para
aprovação e capitação de recursos, o projeto que a esta altura já se chamava
“Projeto de Atuação Pedagógica e Capacitação de Jovens Monitores” teve início
em novembro de 2004. O projeto consistia em desenvolver ações educativas com a
finalidade de divulgar conhecimentos acerca da história e culturas dos africanos
e afrodescendentes, a partir das peças do acervo, contribuindo com o processo
de implementação da Lei 10.639/03 e com a construção de relações étnico-raciais
positivas.
Além das ações de cunho pedagógico o
projeto manteve uma equipe de pesquisa sobre as temáticas do acervo,
sistematizou as fichas das peças, formou uma equipe de monitores composta de 12
jovens ligados a associações de protagonismo negro e elaborou quatro cartilhas
de apoio à ação educativa, para professores e estudantes, publicadas em 2005 e
2006.
Durante o projeto e ao longo das
edições, de 2007, 2008 e 2009, fui estabelecendo contato progressivo com o
museu, com o acervo e com a literatura referente, que me possibilitaram o
amadurecimento de uma visão geral das coleções que o compõe e dos múltiplos
caminhos de pesquisa e aprofundamento.
Na minha pesquisa de mestrado realizei o estudo da Coleção de Cultura
Material Religiosa Afro-Brasileira, sob a orientação do Prof. Marcelo Cunha, que possibilitou a criação de um quadro classificatório com a finalidade de estruturar uma base conceitual para estudos da coleção,
gerar unidades com valor preditivo e heurístico, estabelecer conjuntos
definitórios para os artefatos e organizar virtualmente a coleção. Na pesquisa
também se remontou a história da formação da coleção e entrada dos artefatos no
acervo, analisando o
conjunto de ações e relações entre as instituições, os dirigentes, os
pesquisadores, os artistas, os intelectuais, os militantes e as comunidades
religiosas envolvidas no processo de estruturação do Museu Afro-Brasileiro,
além de analisar os de perfis gerais de
classificação, datação, espacialidade de origem e apresentar grupos de análise
ordenados por materiais e técnicas utilizadas na confecção dos artefatos da
coleção.
As pesquisas realizadas fomentaram um
programa de maior amplitude que envolveu e envolve outros estudos das diversas coleções do museu dando
origem a trabalhos acadêmicos, além de me estimular a continuar meus estudos
focando na Coleção de Cultura Material Africana do Museu.
A pesquisa atual se propõe a estudar
a coleção, analisar a história de sua criação e formação, bem como, do Museu
Afro-Brasileiro e do Centro de Estudos Afro-Orientais, refletir sobre os
processos de patrimonialização da cultura africana no Brasil e suas implicações
no estabelecimento de significações dos discursos institucionais envolvidos. No
que tange as fontes e informações já coletadas para o desenvolvimento da
pesquisa foram consultados e analisados os documentos do arquivo institucional
do Museu Afro-Brasileiro, além de analisar artigos publicados na revista
Afro-Ásia, entre os anos de 1965 a 1983 e 1995, e numerosas notícias de jornais,
publicadas em órgãos da imprensa baiana, no período de 1974 a 2002. Outro
conjunto documental consultado foram as correspondências trocadas entre Pierre
Verger e Marianno Carneiro da Cunha, em que reportam a participação de Verger
em viagens para o continente africano, com a finalidade de comprar artefatos
destinados ao MAE-USP e ao Museu Afro-Brasileiro (MAFRO-UFBA).
Desta forma, mantenho minha relação
imbricada com o Museu e todos os funcionários e colaboradores, que ao longo
destes 16 anos de contato. Que refletem na minha atuação acadêmica e
colaborativa em relação a instituição.
Entendo a importância que o Museu
Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia tem para o campo de estudos
das africanidades e dos coletivos de defesa da valorização da cultura negra. A
origem e instauração do Museu conta essa história e a trajetória afirma e
reafirma sua posição de instituição de vanguarda. Desejo que o presente
periódico estenda os princípios da atuação do Museu e auxilie na divulgação das
produções, ações e projetos por ele desenvolvidos.
Prof. Juipurema A. Sarraf Sandes[1]
[1]
Historiador, Mestre em
Estudos Étnicos e Africanos pelo PósAfro / CEAO / Universidade Federal da
Bahia. Desenvolve pesquisas no campo da História da Cultura Material, abordando
as relações entre simbologia, religião e culturas de matriz africana, bem como,
os processos de patrimonialização da cultura negra. Atualmente é Diretor do
Centro Educacional Anísio Teixeira em Camaçari-BA.
Nenhum comentário:
Postar um comentário