sábado, 26 de setembro de 2020

Marcos Rodrigues


 

A REVISTA DO MAFRO

Demorou mas chegou. O Museu Afro Brasileiro da Universidade Federal da Bahia (MAFRO) anuncia a criação de sua revista eletrônica para discutir as questões étnico-raciais e os desdobramentos da diáspora africana na Bahia. Sem dúvida uma iniciativa já sonhada de algum tempo que deve contribuir na luta contra os preconceitos e discriminações entranhados na mentalidade da população em geral e mais especificamente no ambiente acadêmico. A importância de um espaço como esse está na necessidade óbvia de ampliar as ações afirmativas e reparar os danos ainda pulsantes deixados pela política de opressão racial na nossa (de) formação.

Com isso, acena no horizonte uma revista em busca de cooperar na eliminação das desigualdades e colocar na vitrine do saber nomes sabidamente esquecidos. Seria um novo espaço de abordagem das relações raciais para despertar o olhar sobre a ausência proposital de acesso à informação e de valorização dessa população que secularmente sustenta a economia brasileira?   

Quantas Áfricas recriadas, negociadas, lembradas, estão na nossa jornada de cada dia, negligenciadas por uma mídia lucrativa que pouco se importa com os valores de reparação histórica? Quais Áfricas nos interessam e nos dizem respeito? Quais Áfricas implicam em nossos comportamentos? Na universidade, raras tentativas de criar uma mídia voltada a este segmento ainda nos deixam seguir invisíveis aos nossos próprios olhos, na luta contra retrocessos de discursos monopolistas sem política de comunicação.

Com essas breves observações iniciais apenas indico o meu lugar de fala como Mestre em Estudos Étnicos e Africanos e Bacharel em Comunicação pela UFBA, e colaborador do MAFRO desde 2012. Não sem antes fazer um breve panorama de encontros e desencontros que de alguma forma me aproximaram dos estudos etnológicos.

A primeira experiência foi na reportagem do Jornal Afro-Brasil, em meio à efervescência das articulações do movimento negro em Salvador, porém de curta duração. A oportunidade de trabalhar em eventos e atividades realizados no Ilê Axé Opô Afonjá, a exemplo do Encontro Brasileiro da Tradição dos Orixá e Cultura,  me levou a pensar que eu poderia me tornar um parceiro das comunidades de terreiro. Também vieram experiências como redator em emissoras de rádio e outras como repórter de jornal, que despertaram o meu olhar sobre histórias de vida subalternizadas.

Interessante foi o período de correspondente do Jornal Educa-Ação-Afro, do Centro de Estudos Negros (NEN), em Florianópolis (SC), entre 1998 e 2002. O trabalho consistia em produzir matérias sobre iniciativas pedagógicas na comunidade negra de Salvador. Outra experiência com iniciativas pedagógicas afro-brasileiras foi a de editor do jornal Informativo da Escola Criativa Olodum (Informeco), em 2004.

Através do Centro de Estudos Miguel Santana, criado com a finalidade de pesquisar, documentar, publicar e atuar na preservação da memória popular de Salvador, houve oportunidades de publicação e demarcação de espaço na imprensa, a exemplo da passagem dos 450 anos da cidade do Salvador. 

Como facilitador de projetos sociais, ministrei o curso de Cidadania e Cultura Afro, na Associação Arca do Axé, pelo Programa de Qualificação Profissional para Trabalhadores Culturais Afrodescendentes, da UNEB. A proposta era potencializar o conhecimento dobre a cultura da diáspora africana na Bahia.

A facilitação dos projetos sociais ainda me levou a conhecer comunidades na Ilha de Maré. E com o interesse pelas histórias de vida da população negra na Bahia, cheguei ao Centro de Estudos Afro Orientais da UFBA (CEAO) para cursar o mestrado entre 2010 e 2012. O curso abriu caminhos diaspóricos para apresentação de trabalhos em eventos e publicação de artigos e resenhas em jornal e revistas acadêmicas.  E chegou a revista do MAFRO como espaço de possíveis novas discussões. Que venha pra ficar. Aplausos!



 

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