A REVISTA DO MAFRO
Demorou
mas chegou. O Museu Afro Brasileiro da Universidade Federal da Bahia (MAFRO)
anuncia a criação de sua revista eletrônica para discutir as questões étnico-raciais
e os desdobramentos da diáspora africana na Bahia. Sem dúvida uma iniciativa já
sonhada de algum tempo que deve contribuir na luta contra os preconceitos e
discriminações entranhados na mentalidade da população em geral e mais
especificamente no ambiente acadêmico. A importância de um espaço como esse
está na necessidade óbvia de ampliar as ações afirmativas e reparar os danos ainda
pulsantes deixados pela política de opressão racial na nossa (de) formação.
Com
isso, acena no horizonte uma revista em busca de cooperar na eliminação das
desigualdades e colocar na vitrine do saber nomes sabidamente esquecidos. Seria
um novo espaço de abordagem das relações raciais para despertar o olhar sobre a
ausência proposital de acesso à informação e de valorização dessa população que
secularmente sustenta a economia brasileira?
Quantas
Áfricas recriadas, negociadas, lembradas, estão na nossa jornada de cada dia, negligenciadas
por uma mídia lucrativa que pouco se importa com os valores de reparação
histórica? Quais Áfricas nos interessam e nos dizem respeito? Quais Áfricas
implicam em nossos comportamentos? Na universidade, raras tentativas de criar uma
mídia voltada a este segmento ainda nos deixam seguir invisíveis aos nossos próprios
olhos, na luta contra retrocessos de discursos monopolistas sem política de
comunicação.
Com
essas breves observações iniciais apenas indico o meu lugar de fala como Mestre
em Estudos Étnicos e Africanos e Bacharel em Comunicação pela UFBA, e colaborador
do MAFRO desde 2012. Não
sem antes fazer um breve panorama de encontros e desencontros que de
alguma forma me aproximaram dos estudos etnológicos.
A
primeira experiência foi na reportagem do Jornal Afro-Brasil, em meio à
efervescência das articulações do movimento negro em Salvador, porém de curta duração.
A oportunidade de trabalhar em eventos e atividades realizados no Ilê Axé Opô
Afonjá, a exemplo do Encontro Brasileiro da Tradição dos Orixá e Cultura, me levou a pensar que eu poderia me tornar um parceiro
das comunidades de terreiro. Também vieram experiências como redator em
emissoras de rádio e outras como repórter de jornal, que despertaram o meu olhar
sobre histórias de vida subalternizadas.
Interessante
foi o período de correspondente do Jornal Educa-Ação-Afro,
do Centro de Estudos Negros (NEN), em Florianópolis (SC), entre 1998 e 2002. O
trabalho consistia em produzir matérias sobre iniciativas pedagógicas na
comunidade negra de Salvador. Outra experiência com iniciativas pedagógicas
afro-brasileiras foi a de editor do jornal Informativo da Escola Criativa
Olodum (Informeco), em 2004.
Através
do Centro de Estudos Miguel Santana, criado com a finalidade de pesquisar,
documentar, publicar e atuar na preservação da memória popular de Salvador,
houve oportunidades de publicação e demarcação de espaço na imprensa, a exemplo
da passagem dos 450 anos da cidade do Salvador.
Como
facilitador de projetos sociais, ministrei o curso de Cidadania e Cultura Afro,
na Associação Arca do Axé, pelo Programa de Qualificação Profissional para
Trabalhadores Culturais Afrodescendentes, da UNEB. A proposta era potencializar
o conhecimento dobre a cultura da diáspora africana na Bahia.
A
facilitação dos projetos sociais ainda me levou a conhecer comunidades na Ilha
de Maré. E com o interesse pelas histórias de vida da população negra na Bahia,
cheguei ao Centro de Estudos Afro Orientais da UFBA (CEAO) para cursar o
mestrado entre 2010 e 2012. O curso abriu caminhos diaspóricos para
apresentação de trabalhos em eventos e publicação de artigos e resenhas em
jornal e revistas acadêmicas. E chegou a
revista do MAFRO como espaço de possíveis novas discussões. Que venha pra
ficar. Aplausos!
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